Olá!
Como havia dito ontem, cá estou para contar desse encontro com os artistas que participei no Masp. Já adianto que o encontro foi mais ou menos, a exposição está muito boa e fatos engraçados aconteceram.
Rá.
A exposição, SE NÃO NESTE TEMPO - Pintura alemã contemporânea: 1989 - 2010, vai até 9 de janeiro de 2011 e recomendo.
O encontro aconteceu na tarte de segunda-feira (20) e na bancada estavam: Tatjana Doll, Eberhard Havekost, Tim Eitel, David Schnell e Franz Ackermann e a mediação ficou por conta da curadora Tereza Arruda, parceira do Teixeira Coelho nessa exposição. Paulo Portella, responsável pelo serviço educativo do Masp, fez a abertura.
O encontro na verdade foi uma apresentação. A curadora apresentou cada artista que falou um pouco dos seus trabalhos, da experiência de estar no Brasil e ... praticamente só.
Mesmo porque a situação estava trilingue: alemão, inglês e português, ou seja, a comunicação estava um pouco travada. Alguns deles não falavam inglês, só alemão, e a Tereza Arruda teve que traduzir quase tudo, tanto para o público como para os artistas.
A curadora soube muito bem expor as principais questões que seriam relevantes para entendermos o conceito geral da exposição. Arruda explicou que a pintura contemporânea alemã tem um caráter galerista ainda na América do Sul e com relação aos trabalhos, temos que levar em consideração o contexto histórico alemão que tanto influenciou esses artistas, principalmente nos temas e nas cores. Explico melhor depois.
Mas tudo bem. O mais interessante veio em seguida.
Fomos convidados para visitar a exposição e o melhor: estava praticamente vazia. Eu e mais algumas pessoas só e isso fez a diferença. Não. Não que eu queira que as exposições estejam sempre vazias mas vou começar a pensar em frequentar exposições em dias mais tranquilos. É outra coisa.
Para começar, é um ótimo trabalho dos curadores. Não é uma exposição que cansa, pelo contrário, cada sala te instiga para saber o que está ainda por vir. É simples, não pretende aparecer e faz um trabalho limpo e neutro, ao mesmo tempo que é refinado (acho isso muito importante). E muito interessante que seja uma exposição só de pinturas, contemporâneas e de alto nível.
Vou falar então dos artistas que mais me chamaram a atenção, pelo lado bom ou ruim. E Jonathan Messe é um daqueles artistas atrevidos, mas que não peca pelo excesso. Seu trabalho é pesado e suas grandes telas se impõem logo de cara. Dá pra sentir a presença daquelas grandes figuras ali, junto e que direcionam um grito diretamente para o espectador. Esse jogo é muito legal. São figuras que se apresentam nas suas próprias personalidades. E assim o artista acaba sendo a figura da sua pintura, gritando e querendo dizer mais.
Werner Tübke nos mostra bem o que é a importância do contato direto com a obra. Só ali pude ver como é incrível a pincelada desse artista. É tudo muito detalhado e a pincelada traz um efeito gráfico na pintura que não vi ainda em outro artista. Não adianta. Só vendo lá para saber do que estou falando. Há também o tratamento das cores, Tübke consegue deixar harmônico a mistura de cores puras com meio-tons de diferentes escalas e cores.
Vários artistas dessa exposição possuem em seus trabalhos uma característica que para mim ainda é difícil associar. Parece que querem colocar o mundo em uma tela e a imagem sufoca. Confesso que ainda não consigo enxergar essas imagens. Eu vejo, mas nao enxergo. Isso pode ser ruim sim, posso estar perdendo com isso. Mas é o que eu sinto e é isso. Consigo reconhecer muitos pontos positivos nessas imagens, mas para digerir trabalhos assim ainda é difícil para mim.
André Butzer é uma artista que poderia muito bem cair nessa questão. Mas não, e eu explico porque. Primeiro que ele traz a pintura como matéria, com grandes massas de tinta querendo transbordar. Vários artistas se apropriam disso? Sim. Mas poucos ainda conseguem deixar que a tinta fale por si só e que não pareça ser uma coisa imposta. O trabalho dele pede, por conta própria esse acúmulo de tinta, como uma vontade própria. Acho muito legal quando a pintura aparenta ser autônoma.
"Friedens - Siemens - Cola" 2001
Detalhe
Ah, pois é, tirei uma fotos no Masp. A princípio imaginei que não pudesse, até um segurança por livre e espontânea vontade vir me falar que se eu quisesse poderia tirar as fotos com o celular, sem flash. Achei estranho. Mas, tudo bem. Ótimo. Depois de percorrer várias salas fotografando o que me interessava, outro segurança veio me avisar que era proibido. Hã? É Masp, seus seguranças precisam ser melhor informados. Tudo bem. Parei de fotografar. Rá.
"Sem Título, 2008
Vocês não imaginam o que é essa tela ao vivo. Exuberante. Eu queria essa tela na minha casa. Sinti como que todo dia poderia descobrir alguma coisa a mais, e isso seria infinito. Muito lindo o que me aconteceu. A sensação de que a tela nunca iria se esgotar.
David Schnell botou medo com aquele perfil "alemãozão", se é que me entendem, mas é uma pessoa muito calma, delicada e gentil, pelo que deu pra notar. E tem uma cartela de cores incrível. Encanta a visão pela configuração da imagem e você acredita no que está ali na tela. Porém, num segundo olhar, quase que imediato, percebe-se a tinta escorrida e manchada e parece que tudo ali é efêmero e vai se desfazer aos poucos. Esse efeito contrasta com a presença forte da imagem que se faz com as cores.
"Amarelo" 2007
É uma tela que eu jamais cansaria de apreciar. É de uma riqueza pictórica exemplar para os dias de hoje. Além de tratar da ideía de paisagem, hoje um tema um pouco excluído da pintura.
Daniel Richter não me trouxe muita coisa. Achei muito fechado. Não consegui enxergar as possibilidades do trabalho.
Tatjana Doll me causou uma sensação instigante que ainda não sei explicar. Faltou alguma coisa. Não sei de da minha parte ou da parte dela. (Se é que isso existe!)
Anton Henning ao mesmo tempo que trabalha com a pintura, explora a linguagem pictórica no tridimensional. Mas mais que isso. Ele inverte os papéis das linguagens, coloca a pintura como suporte para a escultura e a escultura como pintura ao tentar trazê-la, deitada, para o bidimensional. Um jogo incrível de linguagens.
Nas pinturas ele permite a intromissão do espectador, seja pela referência à História da Arte, seja pela pintura matérica.
"Com Deus, Nº 2"
Detalhe
Algumas obras com figuras que remetem ao humano, mas são bem distorcidas são desnecessárias eu acho. Como um tiro no escuro que não acertou nada.
O quadro "Pin. Up Nº 148" traz a referência ao Romantismo mas perde efeito ao tentar dialogar com "adereços contemporâneos" desnecessários.
Eberhand Havekost traz umas imagens que já estamos cansados de ver.
Franz Ackermann é o exemplo da imagem sufocada que havia tido. Por mais que seja do meu tempo é difícil uma imagem parada (diferente da tv, cinema e mídias digitais) querer se movimentar tanto. Taí o que eu havia dito de ser um ponto positivo, essa movimentação da imagem parada. Ainda é estranho para mim. E cansa. Eu não consigo ainda me sentir confortável. Há muita coisa numa só imagem. Muitas coisas brigando por espaço.
"Perambulando" 2008
Um dos grandes da exposição, Tom Eitel. E suas pinturas silenciosas onde a arquitetura não se sobrepõe ao indivíduo. É mágico imaginar o processo de pintar esses trabalhos. O artista faz muito, com pouco. É tudo muito pleno, muito certo de ser. Você vê de cara que o cara acertou. Ele acerta na pintura, no tema e no formato. Incrível. Lembrando: vejam ao vivo.
"Estampa" 2002
"Rebelião" 2007
Guardei uma das poucas coisas que Eitel falou no encontro: "Não pretendo passar nenhuma mensagem nas minha pinturas, apenas coloco proposições". Fica a dica.
Saí muito bem do Masp, com milhões de coisas ainda para digerir. E como a Av. Paulista é sempre muito conveniente, dei uma passada na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Rá.
Com um jazz de fundo tive o prazer de encontrar livros fantásticos que estão na lista de futuras aquisições:
"Dias de colecionar borboletas" - José Carlos Honório
(em especial o poema "XXVIII")
"Técnica de conservação de pintura" - Ana Calvo
(um livro que é técnico mas muito gostoso de ler)
"A sensibilidade do intelecto" - Fayga Ostrower
(porque é Fayga Ostrower!)
"Teoria artística na Itália 1450 - 1600" - Anthony Blunt
(urgente!)
É. Falei um pouco do que queria falar. Rá.
Não. Prometo que aos poucos pego o jeito de sintetizar mais as coisas. Ou não.
Cuidem-se.
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