sexta-feira, 25 de março de 2011

Só Leonilson Só.


"Leo não consegue mudar o mundo"

Olá!

De volta e sem rodeios!

Depois de muitas recomendações e por bom senso (lógico!), não poderia deixar de visitar a exposição SOB O PESO DOS MEUS AMORES, com cerca de 300 obras de LEONILSON e com curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende.
Ainda bem que o cansaço de toda a semana não me tomou e firme e forte fui para o Itaú Cultural. Até hoje não havia visto uma exposição sobre o artista e nem estudado seu trabalho a fundo. Conhecia pouca coisa sobre o Leonilson. Mas fiz uma ótima amizade com ele e com seus trabalhos nessa tarde de sexta-feira! E quem for à exposição vai saber do que estou falando.
A começar pelo título da exposição, já podemos ter noção de uma certa intimidade e cumplicidade com o que está por vir, como se o próprio Leonilson nos convidasse para entrar e dividisse conosco memórias, pensamentos, devaneios, espasmos e confissões.
Me permiti entrar de cabeça na "caixa das coisas do Zé" (seu nome era José Leonilson, e por momentos ele mesmo se chama de Zé). Essa caixa, literalmente criada e montada pela curadoria, nos coloca em contato com o trabalho do artista como se também fizéssemos parte de tudo aquilo. Ou que, no mínimo, pudéssemos revirar essa caixa e achar segredos, pessoalidades e muita poesia.
A curadoria acertou na medida ao trazer uma montagem simples e tão correspondente ao trabalho do artista, sem brigar com as obras ou dificultar percursos. Pelo contrário. Nos coloca imersos no mundo do artista e de suas intenções, dialogando com as surpresas do mundo infantil, presentes na produção de Leonilson.
A inocência infantil se mostra no desenho, nas coleções e objetos, porém nos instiga a uma reflexão nada inocente, principalmente se vier acompanhado de palavras e textos.
Ah, as palavras de Leonilson. Como se encaixam umas nas outras. Como se encaixam com as imagens. Como se encaixam na sua vida. E na nossa.
As palavras (e números) aparecem de duas formas: como mensagem e como elemento gráfico. Assim como o desenho, que muitas vezes se prioriza em ser mensagem e outras somente grafismo.
É notável o apuro e riqueza do traço, mas o artista escolhe quando, como e porque se utilizar disso ou não. A técnica realista passa longe de ser um foco para Leonilson.
Até mesmo seus cadernos de anotações (expostos de forma ultramoderna, digitalizados e podendo ser folheados por gestos e sensores) são pensados graficamente, como obras, como trabalhos individuais. Como exemplo disso: as cores empregadas, o branco e o vazio do papel, presentes na maioria dos trabalhos. Não poderia ser diferente em seus cadernos.
Além disso, o artista consegue transitar entre as linguagens de uma forma intuitiva e tão complementar entre elas que é fácil pensar toda sua produção como uma só obra.
São tantas as reflexões e observações a respeito desse artista, suas obras e sua vida que não seria possível expor tudo aqui.
Mas gostaria sim de deixar como conclusão desse texto uma das coisas mais bonitas que percebi e aprendi com esse artista. Leonilson nos mostra a verdadeira vontade do artista para com o mundo: antes de querer se expressar, ele quer FAZER. Quer se colocar (pequeno) perante o (imenso) mundo.
Como é visível sua necessidade em produzir, em fazer, EM ESTAR FAZENDO, como se o trabalho fosse resultado de uma ação para com O OUTRO e para SI MESMO. Para Leonilson o FAZER, o REAGIR frente as coisas da vida é um gritar para o mundo. Essa ação é a arte desse artista tão profundo quanto poético. Tão lúdico quanto real. Um artista que se permite FAZER antes de SER.
Disso tudo não poderiam sair obras tão intensas e tão delicadas e sensíveis como as que deliciosamente conheci hoje.
Sem mais.
Cuidem-se!