quinta-feira, 21 de outubro de 2010

As respostas.




Olá!

Alguns livros que leio, me comprovam que a mente, quando quer, atrai as respostas que precisa quando menos se espera (na maioria das vezes isso acontece com livros mesmo).
O último livro que li, "Razões da Crítica" de Luiz Camillo Osório é um exemplo disso. Dúvidas que apareceram nos últimos tempos foram respondidas pelo livro. Mas não que eu estivesse procurando as respostas exatamente neste livro. São reflexões que, aparentemente, eu não encontraria no livro, mas encontrei.
Essa surpresa é fascinante!
Cito aqui um trecho que respondeu alguns questionamentos.
E não poderia deixar de falar da forma como o autor apresenta e reflete questões filosóficas difíceis de se expressar e, principalmente, com uma linguagem simples, sintética e que realmente esclarece o leitor.

Aqui estão minhas respostas.

"Estamos assim, creio eu, mais disponíveis para lidar com a aparente desordem da arte contemporânea. Não me interessa a impressão de vale-tudo, que surge sempre que entramos, por exemplo, em uma bienal. A desorientação é que me faz querer tornar público meu juízo, do ponto de vista tanto profissional quanto amador. Tornar público o juízo é o modo de criar sentido e fazer distinções. Uma vez que as obras nos tocam, e como isto acontece é inexplicável, nos vemos dispostos a pensar sobre elas, analisá-las com mais vagar, a procurar um vocabulário que ponha em foco e dê mais consistência ao sentimento inicial. Vai-se criando um círculo virtuoso em que sentir e conhecer se potencializam.
O desvio causado pela obra de Duchamp, onde 'tudo parece poder ser arte', é um desvio em direção à origem, onde as formas de arte são indiferenciadas e o que importa é a possibilidade de invenção de novos sentidos. A sua aposta não é que tudo, indiferentemente, seja arte, mas que tudo, na sua diferença, possa ser arte. E essa diferença deve ser entendida como afirmação da liberdade e criatividade humanas."

Fiquem livres para pensar em quais foram as perguntas.

Cuidem-se.

Makoto Habu - O jogo e o gênero



Makoto Habu
Pintura Elementar nº C, 2010
Grafite em pó sobre parede
Dimensões variáveis

A obra de Makoto Habu se trata de uma pintura/desenho feita com grafite em pó diretamente sobre parede, suscetível de se tornar efêmera, visto que aos poucos o grafite se desprende. Esse material depois de fixado possui a forma de um quadrado.
Ao trazer o formato característico da linguagem pictórica e o material da linguagem gráfica, o artista dialoga com ambas as linguagens de forma sintética, limpa e rica em discussões relacionadas ao caráter pictórico e gráfico.
Makoto Habu ultrapassa os limites das linguagens ao fazer seu trabalho diretamente na parede, de forma a criar um “quadro” que se expande, que vai além dos seus limites físicos, colocando o espectador em sintonia com a obra e o espaço. Habu, porém, utiliza o grafite como material de trabalho, portanto, não se pode excluir a possibilidade de ali estar desenhado, e não pintado, um quadrado na parede.
Essas possibilidades de reflexões e jogos de linguagem atribuem uma singularidade ao trabalho, principalmente, se relacionado à estética. Por um lado podemos atentar para o fato de que o desenho, tradicionalmente, não possui massa como elemento plástico-visual. Consequentemente, a obra se encaixaria dentro da pintura? Ainda não é uma conclusão sólida e suficiente, pois, no entanto, o trabalho só acontece de forma única pela utilização do grafite em pó.
Atribuir a obra de Habu a uma determinada linguagem é excluir todas as suas particularidades enquanto obra de arte contemporânea. A questão principal do trabalho é o jogo. É o passeio livre, e rico esteticamente, pelos principais campos da arte.
Makoto Habu possui algo de semelhante com os trabalhos da artista Flávia Ribeiro. A artista trabalha com diferentes tipos de metais em seus trabalhos tridimensionais, assim como materiais brutos e também o grafite como material e não instrumento. A semelhança entre os artistas não existe somente pelo mesmo uso dos materiais, mas ao fazer da obra um organismo vivo no espaço, um organismo material. A obra, portanto, atua como cúmplice do espectador que contempla e participa dos seus jogos de linguagem e se afirma como dona de seu tempo e espaço.

Cuidem-se.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O evento, a pintura e o Paulo Pasta.

Há pelo menos um ano entrei no site da Usp, especificamente na Revista Ars e selecionei e salvei vários textos para ler. O engraçado é que não sei como esqueci disso e fui achar esses textos no computador há pouco tempo atrás.
Escolhendo aleatóriamente o primeiro texto que iria ler, abri o texto “O evento e a pintura” do Paulo Pasta.
O texto não poderia ser mais atual e mais ideal para os meus últimos estudos.
Em primeiro lugar porque ele faz uma crítica (muito pertinente) da XXVI Bienal de São Paulo, e segundo porque a partir disso desvia deste foco para tratar dos assuntos da pintura, especificamente de grandes artistas pintores.

Ao falar da Bienal, Pasta traz um assunto que há muito está na minha cabeça. A questão da espetacularização da Bienal e como muitas obras, num grande evento como esse, acabam se tornando “ventríloquos do evento”.

(Vou trazer alguns trechos porque nada melhor do que a própria fonte. Já que infelizmente não salvei o link para colocar aqui).

“Parece uma equação irritante essa: vários dos trabalhos que lá estão tornam-se ventríloquos do evento, da urgência deste. E assim eles fazem reverberar um vazio alheio, ao mesmo tempo em que potencializam o vazio próprio. Para disfarçar, às vezes precisam fazer bastante barulho. E como essas bienais são barulhentas...”

Uma parte muito importante do texto é quando Pasta comenta a instalação de Paulo Bruscky na mostra daquele ano. E já trago o trecho de imediato.

“Segundo me pareceu, o próprio apartamento do artista é que foi transposto para o espaço expositivo. A curadoria entendeu que o lugar onde vive o artista ganharia o estatuto da obra.
Por que não expor a produção do artista? Por que optar por aquilo?
Não dá para evitar essas perguntas e, também, comparações menos favoráveis, como com o advento dos reality shows; porque, colocados numa situação de voyeurs, ficamos nos perguntando por onde andaria o habitante da casa, por exemplo. Talvez o grau zero de toda essa fetichização fosse, então, o mundo posto como readymade? Mas penso que talvez isso se explicaria mais banalmente pela atual e já citada espetacularização da arte.
Essa instalação, à revelia de seu valor, é um exemplo dessa substituição: a da obra pelo seu entorno e pela sua publicidade. Basta pensarmos nessa simetria de espaços: um, que é para exibir arte, e o outro, agora esvaziado da obra, tornado plágio de si. Um espaço procurando ser ocupado por outro espaço, ou um ecoando o outro.”

Muito atual. Ainda mais quando se tem que atingir números de espectadores e cria-se um circo ao invés de uma mostra de arte. Grande estratégia. Afinal fomos educados assim desde há muitos e muitos anos.

E ATENTO QUE NÃO ESTOU FALANDO DA BIENAL DESTE ANO POIS AINDA NEM FUI VISITÁ-LA. ESTOU FALANDO DE UMA CARACTERÍSTICA GERAL DE MUITAS MOSTRAS NOS ÚLTIMOS ANOS. E se serve de justificativa, estou muito esperançosa com essa Bienal.

Enfim, depois de percebermos através do texto a importância do evento para certas mostras e não a obra em si, Pasta desvia o assunto de forma muito sutil e começa a falar da pintura e o mais impressionante (e que me deixou encantada e muito mais fã desse cara), a retórica que ele possui.
A forma como ele compreende as obras, no caso, de Luc Tuymans, Reverón, James Ensor e Gerhard Richter, é de uma sensibilidade diferente, principalmente quando fala da diferença do tratamento da cor entre esses artistas.

Tuymans, por exemplo, usa de uma paleta quase monocromática e tem o branco como papel principal.
“O branco de Tuymans é bastante diferente. Ele parece vir antes, vem para ver a luta, para apagar os sentidos do mundo, para cobrir o sol, como querendo dizer que nenhuma ação presente tem a força do tempo que se encarrega de desvanecer e desbotar tudo.”
Como um dos principais assuntos desse artista remete à infância e à diferença de percepção e visão que mudam com o tempo, o branco na obra se basta para apresentar esse tema. O branco tira o peso do trabalho plástico em si e acrescenta no tema e na figura.



Luc Tuymans, Big Brother, 2008

Já em Reverón o branco se faz presente de outra forma, como sobrevivente.
“Em Reverón, o branco parece ser o rescaldo, o que sobrou da luta com a luz. O branco é o testemunho disso, dessa luz que desfaz o mundo enquanto parece querer torná-lo mais visível. É matéria viva e afetiva, inscrita materialmente na superfície da tela quase sempre crua, sem nenhuma imprimação. É uma pintura quase tátil, quase cega.” Bonito isso não?!



Armando Reverón, "The Creole 'Maja' (La maja criolla)," 1939, oil and tempera on burlap

James Ensor traz o branco como um poder maior. “Se na pintura de Luc Tuymans essa cor também é usada para trazer um estranhamento ao mundo, na de Ensor é o contrário: serve para deixar mais real o absurdo, como se trouxesse o mistério para a luz do dia.”



"Máscaras confrontando a Morte"

No decorrer do texto Pasta posiciona a importância da fotografia para esses artistas e como é a relação dessas linguagens.
“Tuymans faz da fotografia uma espécie de máscara.” Nesse momento o artista nos mostra o mundo e não o representa. E isso é fantástico, ainda mais com a pintura, que apesar de usar da fotografia, é seu trabalho real.

“Faz já algum tempo que teóricos abordam o fato de a fotografia ter se transformado num readymade da pintura, única lente capaz de tratar de forma atual as figuras e de nos colocar em dia com as premissas de nossa época.”
É importante entendermos que a fotografia tem vários papéis dentro da arte atual e ser parte do processo pictórico é um deles. Para mim, a pintura só tem a ganhar com isso. Temos que entender que o caráter pictórico hoje é abrangente demais e devemos colocar a pintura dentro do nosso tempo, que é híbrido e volátil.

Como exemplo disso, Pasta nos traz o artista alemão Gerhard Richter. É extremamente visível a presença da fotografia em seus trabalhos, mesmo que ele não faça uma pintura hiper-realista como é característica da fotografia. O artista borra e desfaz a imagem, senso assim, traz o movimento da câmera fotográfica como expressão e não o tema.
“A sua pintura procura colocar-se num ponto possível entre o olho e a máquina.”
“... a relação possível entre o fazer pictórico, sua prática peculiar, e o advento das imagens eletrônicas.”

Pasta volta a falar dos trabalhos de Tuymans no final do texto, mas com um foco um pouco diferente do início. Relacionando pintura e fotografia, Pasta consegue situar as duas linguagens hoje.
“A pintura parece ser mais desconfiada de si e, portanto, mais pronta a nos fazer participantes.” Isso é a principal característica da pintura e o que nos causa fascínio em toda a sua história. Não há certezas.
“Parece querer – ultrapassando a si mesma – a tradição, inclusive transformando a referência fotográfica numa prática já também tradicional."

É o tempo em que vivemos. Quando, com o surgimento da fotografia, a pintura se sentiu ameaçada, a sensação desse momento já ficou para trás há um bom tempo.

A pintura contemporânea vai além do que se esperava com a fotografia. A pintura hoje mostra e não representa, e não reproduz.

E para os artistas contemporâneos fica a dica.
“Ao mesmo tempo, Tuymans é um pintor dotado de erudição em pintura, mas que a coloca no lugar certo, isto é, não a utiliza para tecer citações ou exibir repertório, mas para melhor compreender seu tempo e lugar; ele que, sendo belga, fala com muito intimidade de El Greco e da pintura espanhola, assim como de Manet e da ligação profunda dos belgas com a tinta a óleo com o melhor material existente para a pintura.”

Cuidem-se.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Arte Latino-Americana

Caetano Veloso utilizando o parangolé do Oiticica

Olá!

Semana de provas... Relendo uns textos... Precisava trazer umas anotações para cá.
Vários textos que leio preciso compartilhar. Não sei de onde vem isso. Mas sinto a necessidade de gritar como é bom ler certas coisas.

Um dos textos para a prova de amanhã chama-se "Reescrevendo a história da arte latino-americana" do Frederico Morais. Depois de o autor descrever o período moderno da arte latino-americana e explicar que hoje estamos (latino-americanos) muito mais conscientes da nossa autonomia criativa e que o mundo enxerga dessa maneira também, Moraes fecha o texto de forma brilhante. E vou transcrever esse trecho.

"Hélio Oiticica dizia, num de seus textos, que o papel da arte brasileira (leia-se latino-americana) no plano internacional era subterrâneo. Quando, finalmente, seu trabalho veio à superfície, menos de uma década depois de sua morte, o choque foi enorme. Oiticica é hoje uma das referências mais importantes da arte internacional. Na análise que Catherine David, curadora da última Documenta de Kassel: 'Sua obra carece de todo exotismo, aparecendo vinculada a uma modernidade sem nacionalidade e igualmente à tradição européia, sem deixar de pertencer a uma cultura brasileira, radical e selvagem'. Mas, surpresa, se pergunta: 'É possível uma arte experimental de vanguarda num país subdesenvolvido?' CLARO QUE É POSSÍVEL e o próprio Oiticica é melhor exemplo. Lygia Clark, outro. Cildo Meireles e Victor Grippo outros. A verdade é que o centro começa ser transformado pelas margens.
A antropofagia de Oswald de Andrade nos ensina que, se necessário, devemos ser insolentes, tanto na defesa de nossas tradições, quanto na absorção do que vem de fora. Nem timidez nem recato. Podemos e devemos buscar, onde quer que seja, o que necessitamos para a renovação de nossa criatividade plástica. Tanto quanto a arte dos grandes centros, a arte latino-americana é plural, dinâmica, contraditória, híbrida, sincrética. A existência de uma arte latino-americana viril e independente pressupõe intercâmbio, confrontação e relacionamento constante e aberto com a arte de outras nações."

Sem mais.

Cuidem-se.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Encontro com os artistas - Masp ou SE NÃO NESTE TEMPO - Pintura Alemã Contemporânea: 1989 - 2010

Olá!

Como havia dito ontem, cá estou para contar desse encontro com os artistas que participei no Masp. Já adianto que o encontro foi mais ou menos, a exposição está muito boa e fatos engraçados aconteceram.

Rá.

A exposição, SE NÃO NESTE TEMPO - Pintura alemã contemporânea: 1989 - 2010, vai até 9 de janeiro de 2011 e recomendo.

O encontro aconteceu na tarte de segunda-feira (20) e na bancada estavam: Tatjana Doll, Eberhard Havekost, Tim Eitel, David Schnell e Franz Ackermann e a mediação ficou por conta da curadora Tereza Arruda, parceira do Teixeira Coelho nessa exposição. Paulo Portella, responsável pelo serviço educativo do Masp, fez a abertura.

O encontro na verdade foi uma apresentação. A curadora apresentou cada artista que falou um pouco dos seus trabalhos, da experiência de estar no Brasil e ... praticamente só.

Mesmo porque a situação estava trilingue: alemão, inglês e português, ou seja, a comunicação estava um pouco travada. Alguns deles não falavam inglês, só alemão, e a Tereza Arruda teve que traduzir quase tudo, tanto para o público como para os artistas.

A curadora soube muito bem expor as principais questões que seriam relevantes para entendermos o conceito geral da exposição. Arruda explicou que a pintura contemporânea alemã tem um caráter galerista ainda na América do Sul e com relação aos trabalhos, temos que levar em consideração o contexto histórico alemão que tanto influenciou esses artistas, principalmente nos temas e nas cores. Explico melhor depois.

Mas tudo bem. O mais interessante veio em seguida.

Fomos convidados para visitar a exposição e o melhor: estava praticamente vazia. Eu e mais algumas pessoas só e isso fez a diferença. Não. Não que eu queira que as exposições estejam sempre vazias mas vou começar a pensar em frequentar exposições em dias mais tranquilos. É outra coisa.

Para começar, é um ótimo trabalho dos curadores. Não é uma exposição que cansa, pelo contrário, cada sala te instiga para saber o que está ainda por vir. É simples, não pretende aparecer e faz um trabalho limpo e neutro, ao mesmo tempo que é refinado (acho isso muito importante). E muito interessante que seja uma exposição só de pinturas, contemporâneas e de alto nível.


Vou falar então dos artistas que mais me chamaram a atenção, pelo lado bom ou ruim. E Jonathan Messe é um daqueles artistas atrevidos, mas que não peca pelo excesso. Seu trabalho é pesado e suas grandes telas se impõem logo de cara. Dá pra sentir a presença daquelas grandes figuras ali, junto e que direcionam um grito diretamente para o espectador. Esse jogo é muito legal. São figuras que se apresentam nas suas próprias personalidades. E assim o artista acaba sendo a figura da sua pintura, gritando e querendo dizer mais.


Werner Tübke nos mostra bem o que é a importância do contato direto com a obra. Só ali pude ver como é incrível a pincelada desse artista. É tudo muito detalhado e a pincelada traz um efeito gráfico na pintura que não vi ainda em outro artista. Não adianta. Só vendo lá para saber do que estou falando. Há também o tratamento das cores, Tübke consegue deixar harmônico a mistura de cores puras com meio-tons de diferentes escalas e cores.


Vários artistas dessa exposição possuem em seus trabalhos uma característica que para mim ainda é difícil associar. Parece que querem colocar o mundo em uma tela e a imagem sufoca. Confesso que ainda não consigo enxergar essas imagens. Eu vejo, mas nao enxergo. Isso pode ser ruim sim, posso estar perdendo com isso. Mas é o que eu sinto e é isso. Consigo reconhecer muitos pontos positivos nessas imagens, mas para digerir trabalhos assim ainda é difícil para mim.


André Butzer é uma artista que poderia muito bem cair nessa questão. Mas não, e eu explico porque. Primeiro que ele traz a pintura como matéria, com grandes massas de tinta querendo transbordar. Vários artistas se apropriam disso? Sim. Mas poucos ainda conseguem deixar que a tinta fale por si só e que não pareça ser uma coisa imposta. O trabalho dele pede, por conta própria esse acúmulo de tinta, como uma vontade própria. Acho muito legal quando a pintura aparenta ser autônoma.

"Friedens - Siemens - Cola" 2001

Detalhe


Ah, pois é, tirei uma fotos no Masp. A princípio imaginei que não pudesse, até um segurança por livre e espontânea vontade vir me falar que se eu quisesse poderia tirar as fotos com o celular, sem flash. Achei estranho. Mas, tudo bem. Ótimo. Depois de percorrer várias salas fotografando o que me interessava, outro segurança veio me avisar que era proibido. Hã? É Masp, seus seguranças precisam ser melhor informados. Tudo bem. Parei de fotografar. Rá.

"Sem Título, 2008

Vocês não imaginam o que é essa tela ao vivo. Exuberante. Eu queria essa tela na minha casa. Sinti como que todo dia poderia descobrir alguma coisa a mais, e isso seria infinito. Muito lindo o que me aconteceu. A sensação de que a tela nunca iria se esgotar.

David Schnell botou medo com aquele perfil "alemãozão", se é que me entendem, mas é uma pessoa muito calma, delicada e gentil, pelo que deu pra notar. E tem uma cartela de cores incrível. Encanta a visão pela configuração da imagem e você acredita no que está ali na tela. Porém, num segundo olhar, quase que imediato, percebe-se a tinta escorrida e manchada e parece que tudo ali é efêmero e vai se desfazer aos poucos. Esse efeito contrasta com a presença forte da imagem que se faz com as cores.

"Amarelo" 2007

É uma tela que eu jamais cansaria de apreciar. É de uma riqueza pictórica exemplar para os dias de hoje. Além de tratar da ideía de paisagem, hoje um tema um pouco excluído da pintura.

Daniel Richter não me trouxe muita coisa. Achei muito fechado. Não consegui enxergar as possibilidades do trabalho.

Tatjana Doll me causou uma sensação instigante que ainda não sei explicar. Faltou alguma coisa. Não sei de da minha parte ou da parte dela. (Se é que isso existe!)

Anton Henning ao mesmo tempo que trabalha com a pintura, explora a linguagem pictórica no tridimensional. Mas mais que isso. Ele inverte os papéis das linguagens, coloca a pintura como suporte para a escultura e a escultura como pintura ao tentar trazê-la, deitada, para o bidimensional. Um jogo incrível de linguagens.
Nas pinturas ele permite a intromissão do espectador, seja pela referência à História da Arte, seja pela pintura matérica.

"Com Deus, Nº 2"

Detalhe

Algumas obras com figuras que remetem ao humano, mas são bem distorcidas são desnecessárias eu acho. Como um tiro no escuro que não acertou nada.

O quadro "Pin. Up Nº 148" traz a referência ao Romantismo mas perde efeito ao tentar dialogar com "adereços contemporâneos" desnecessários.

Eberhand Havekost traz umas imagens que já estamos cansados de ver.

Franz Ackermann é o exemplo da imagem sufocada que havia tido. Por mais que seja do meu tempo é difícil uma imagem parada (diferente da tv, cinema e mídias digitais) querer se movimentar tanto. Taí o que eu havia dito de ser um ponto positivo, essa movimentação da imagem parada. Ainda é estranho para mim. E cansa. Eu não consigo ainda me sentir confortável. Há muita coisa numa só imagem. Muitas coisas brigando por espaço.

"Perambulando" 2008

Um dos grandes da exposição, Tom Eitel. E suas pinturas silenciosas onde a arquitetura não se sobrepõe ao indivíduo. É mágico imaginar o processo de pintar esses trabalhos. O artista faz muito, com pouco. É tudo muito pleno, muito certo de ser. Você vê de cara que o cara acertou. Ele acerta na pintura, no tema e no formato. Incrível. Lembrando: vejam ao vivo.

"Estampa" 2002

"Rebelião" 2007

Guardei uma das poucas coisas que Eitel falou no encontro: "Não pretendo passar nenhuma mensagem nas minha pinturas, apenas coloco proposições". Fica a dica.

Saí muito bem do Masp, com milhões de coisas ainda para digerir. E como a Av. Paulista é sempre muito conveniente, dei uma passada na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Rá.

Com um jazz de fundo tive o prazer de encontrar livros fantásticos que estão na lista de futuras aquisições:

"Dias de colecionar borboletas" - José Carlos Honório
(em especial o poema "XXVIII")

"Técnica de conservação de pintura" - Ana Calvo
(um livro que é técnico mas muito gostoso de ler)

"A sensibilidade do intelecto" - Fayga Ostrower
(porque é Fayga Ostrower!)

"Teoria artística na Itália 1450 - 1600" - Anthony Blunt
(urgente!)

É. Falei um pouco do que queria falar. Rá.
Não. Prometo que aos poucos pego o jeito de sintetizar mais as coisas. Ou não.

Cuidem-se.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

um e meio por dois: ESSE É UM BLOG SOBRE ARTE!

Olá!!!

Que bom começar mais um blog (mas esse não vai parar no meio, prometo)!
Praticamente a idéia surgiu pela necessidade de escrever sobre arte. É. ESSE É UM BLOG SOBRE ARTE. Trarei relatos de várias experiências bem legais que têm acontecido comigo, como: exposições, encontros, palestras, discussões em aula e tudo que achar bom para deixar uma pulguinha atrás da orelha e possibilitar pesquisar e trocar conhecimento.

Sou estudante de artes visuais e como algumas pessoas sabem, não pretendo ser artista.
Não, não é bem assim. Tenho adorado e achado incrível todo trabalho prático que a faculdade está me proporcionando, pretendo continuar a investigar isso (principalmente relacionado à pintura, ou melhor, ao caráter pictórico), mas ainda estou bem focada no "campo das idéias". Toda a parte teórica, de pesquisa, de filosofia e estética da arte.

Pegou? Então vamos lá.

Ah, me escrevam. Comentem, tragam questionamentos para discutirmos e pensarmos, tragam experiências também, garanto que assim vai ficar muito mais interessante e vai valer muito mais a pena.

Deu né?

Bom! Começo o blog, então, falando do Encontro Internacional de Curadoria que aconteceu no Centro Cultural São Paulo nos dias 17 e 18.

http://www.forumpermanente.org/.event_pres/encontros/international-curatorial-encounter/

Taí, o link do Fórum Permanente, responsável por esse encontro, para quem quiser saber sobre o evento e conhecer o Fórum.

Para esclarecer, participei do evento no dia 18 somente. No dia 17 vários artistas, curadores, educadores e pessoas da área das artes visuais se escontraram para discutir questões relacionadas à curadoria em várias mesas com temas diferentes.

No dia 18 a idéia era expor ao público os principais questionamentos das mesas.

Com o tema, Arte Contemporânea e Curadoria, o encontro contou com a participação de Martin Grossmann, Ricardo Basbaum, Cristiana Tejo, Ana Letícia Fialho e Pamela Prado.
Foi bem uma conversa, com cada um expondo os temas das suas mesas e jogando umas questões para o público refletir, bem com a idéia de não atribuir respostas de imediato. E foi legal por isso, eu acho, porque é assim, a gente não têm muitas certezas quando se trata de arte contemporânea, seja em curadoria, crítica, mediação... Ainda é tudo muito incerto, mas instigante, e nos abre um leque de milhões de possibilidades para refletirmos, construirmos e entendermos a arte e o sistema artístico do nosso tempo.

No geral, era para se pensar nas estratégias para a arte contemporânea e curadoria para a próxima década.

Cristiana Tejo trouxe o tema "Práticas de Curadoria". Gostei muito da fala dela, e apesar do tempo curto, foi bem completa. Uma das questões abordadas foi a falta de projetos curatoriais das instituições. E realmente (eu ainda sou leiga nisso, estou começando a pesquisar e estudar alguns projetos) a impressão que tenho é que não temos mesmo muitos projetos próprios de instituições, grandes montagens que não sejam retrospectiva, ou de um único artista. Não estou dizendo que essas não são boas exposições, claro que são, mas parece que ficamos apenas nisso. Se eu estiver errada por favor me avisem!

A Pamela Prado falou de metodologia e ensino de curadoria. E a grande questão foi que é necessário levar em consideração o contexto histórico e social para a formação de críticos, mediadores e curadores e que deve haver (claro!) como fonte principal a História da Arte, Filosofia da Arte e Crítica em todos os contextos. É interessante isso porque na verdade não tem como pensar um projeto curatorial dentro de um contexto específico e levar para outro. Sim, é importante esse jogo cultural mas o que não dá é esperar que a experiência seja a mesma e a recepção também. Mesmo porque (e isso eu sinto falta sim) parece que muitos curadores pensam somente no público que entende de arte, e hoje o acesso à exposições e informações é bem diferente, e acabam não levando em consideração isso: o público. Já cansei de ir em exposições que parece que o curador montou a exposições para outros curadores. E isso é péssimo.

Adorei o Ricardo Basbaum. Nunca havia presenciado uma bancada com ele e achei que o cara tem uma sensibilidade (e uma calma) pra tratar dos assuntos bem relevantes para, por exemplo, o tema da mesa que ele expôs, "Curadoria e artistas curadores" e, além disso, também entrou nas questões de mediação (aqui entra a sensibilidade). Hoje existem muitos artistas curadores, artistas que já pensam na curadoria dos seus próprios trabalhos e ai vem a pergunta: onde entra o curador num projeto desse? Lógico, como eu disse no começo, a bancada só jogou as perguntas. Mas foi legal pensar sobre isso. Ainda não tenho nada muito certo na minha cabeça. Mas me interessa muito a idéia desse trabalho em conjunto. Acho que a curador ganha muito com essa parceria.
A mediação foi um assunto que me interessou bastante na fala do Basbaum. Ele disse sobre a comunicação muito expandida que possibilita o espectador ter a acesso a obra muito antes do contato direto. Essas camadas que fazem a mediação com as obras, de certa forma filtram a experiência. E isso me instigou para um pensamento que passei a direcionar como ação (E isso vem lá do J. Larrosa): eu só vou atrás de informação, texto, ou qualquer coisa a respeito da exposição depois de visitá-la. Fica a dica.

Marcel Grossmann também falou de mediação mas principalmente da relação da curadoria com a crítica, e o que ele chamou de crítica-criativa dentro da arte contemporânea, que não entendi muito bem, mas acredito estar relacionada com o papel do artista crítico também, mas posso estar enganada. Vou atrás disso, o que achar trago para cá. Dentro do assunto, falou-se da importância da educação como mediadora entre arte contemporânea e público. É preciso que as pessoas sejam educadas para a arte de seu tempo como em todo a história da arte. Isso é óbvio.

A Ana Letícia Fialho fez a mediação da bancada junto com o Grossmann e também é do Fórum Permanente.

Depois que foi aberta a discussão para o público duas perguntas foram mais relevantes e geraram um boa discussão. A primeira foi sobre a definição de mediação crítica. Não houve resposta, mas se questionou até que ponto a mediação pode ser crítica e vice-versa. E eu acredito que é de extrema importância que no processo educativo esteja incluída a crítica, como formação de juízo crítico, para que isso no futuro forme profissionais capazes de possibilitar a mediação através da crítica. Não sei, mas tenho pensamentos confusos ainda sobre isso.

A segunda pergunta foi de uma estudante de sociologia política (???) que perguntou como a curadoria enxerga e articula o fato de o grafiti estar num momento de inserção no sistema da arte. O grafiti que tem a característica principal de ser uma arte de rua ( e deixo bem claro que isso não é nem um pouco menor, é só uma característica) está querendo sair desse espaço e entrar em museus, galerias, centros culturais, enfim, dentro desse eixo curatorial.
A curadora Daniela Labra que participou das mesas no dia anterior e estava na platéia soube articular essa questão. Ela já fez a curadoria de uma exposição só de grafiti chamada "Fabulosas Desordens" e o mais legal nessa discussão foi que, na verdade, o fato de o grafiteiro estar dentro do espaço de arte não é o problema. O problema é que na rua eles querem ser chamados de grafiteiros e dentro da instituição querem ser artistas. Perai, isso demonstra uma certa falta de interesse por parte desses "grafiteiros/artistas" sobre onde realmente estão. E não só isso, Labra falou que pelo que ela percebeu esses caras não têm muito interesse em arte sabe, em estudar, em saber como funciona isso e acaba nisso ai, eles não sabem nem o que são. Eu concordo com isso. E não é uma crítica, mas se eles estão querendo estar dentro de tudo isso, seria bem legal que eles procurassem saber sobre isso.

Fui na Bienal do Grafiti no Mube (não vou falar sobre agora, talvez outra hora) e só queria dizer que meu pensamento mudou muito com relação ao grafiti e acho que na rua ou no museu os caras são artistas. Têm muitos deles que preferem a rua e acham que o trabalho deles é nesse espaço, outros já querem expadir essa idéia e trazer o grafiti para o sistema contemporâneo da arte. Ambas as situações são super válidas e mais, não acho que tenha muito a ser discutido sobre isso. (Não entrei na questão do picho e Bienal e etc e nem vou entrar). O grafiti é arte do nosso tempo e devemos somente articular suas proposições estéticas ou não, e não definir lugares para ele.

Voltando a Daniela Labra, ela ainda jogou uma super questão: se a o grafiti é feito em tela, ele é grafiti ou é pintura? E fica ai a pergunta. Eu ainda não tenho resposta. Mas vou atrás.

Rá. Muita coisa ainda para digerir. Amanhã escrevo mais e contarei sobre o encontro com os artistas alemães no Masp. Mas só amanhã.

Cuidem-se.