quarta-feira, 30 de novembro de 2011

31º Espasmo

Preciso gritar.
Dizendo só que já fui.
Que não volto mais pra redoma de vidro que sufoca e congela.
Faço parte de uma obra maior. Que cansa.
Não gosto mais da sensação de ir e vir.
Quero só estar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

9º Espasmo



Depois das luzes a cidade acaba. Um precipício
mora ali.
Caminho e a chuva.
E as luzes estão lá. Um único espaço é o suficiente.
Completo prazer. Completo gosto.
Gozo.
Momento sutil. Momento de glória!
Levai-me daqui.

Obra Unidade 266

Oi!

Primeira página do caderno laranja. Onde surgiu meu trabalho de conclusão de curso. Era só um desenho e umas anotações... Mas está dando certo e daqui umas semanas apresento a obra pronta e o artigo referente.
Algumas coisas importantes no decorrer do processo criativo...

"Quando a arte não quis ser outra coisa se não arte." Gadamer


"Interessa o que desregra e possibilita." Sergio Cohn



Construção + tijolo baiano




****não quero respostas. quero desdobramentos.****


****artista como propositor.****


- Composição tridimensional relativamente simples.


- Idéia de "escultura vazia" de Morris.


** Não me dou com Clement Greenberg!


TRANSLÚCIDO = SIMULTANEAMENTE ABERTO E FECHADO



"O espaço está no objeto tanto quanto o objeto está no espaço." David Batchelor



HÉLIO OITICICA + MÁRIO PEDROSA!


- Consciência do espaço como elemento ativo.


- Objeto ativo!


- Campo de ação/proposição/deslocamento transposto/gênese vivencial/gênese formal.



"Que adiantaria possuir a obra 'unidade' e essa unidade fosse largada à merce de um local onde não só não coubesse como idéia, assim como que não houvesse a possibilidade de sua plena vivência e compreensão?" Hélio Oiticica



"Somente a função de criar um 'campo' poético." Hélio Oiticica



- EXPERIÊNCIA SENSÍVEL!



É mais ou menos por ai... O resto eu deixo para o próprio trabalho. Como diria o querido Sérgio Niculitcheff: "Fez com amor jovem?"



Cuidem-se!







domingo, 27 de novembro de 2011

Assim é se lhe parece




Olá!




A partir de hoje as anotações deste caderno laranja estarão aqui também.


Nunca tive um caderno de projetos. Não queria ter produção artística. No fim foram surgindo alguns projetos (meu tempo de criação é um tanto quanto lerdo) e um jeito muito meu de anotar tudo que eu queria. Isso tudo aos poucos contribui para outros e outros projetos... Ou não. E acabam sendo apenas meus espasmos e vontades de escrever ... Só.




Há um tempo atrás fiz um workshop sobre curadoria com o Marcio Harum. Devido ao último semestre da faculdade estudando entre milhões de coisas, minimalismo, John Dewey, Hélio Oiticica, alvenaria, cerâmica, deixei um pouco de lado meu interesse em curadoria.




Mas gostaria de expor aqui as coisas que anotei nos três dias de workshop e acabei relendo sem querer hoje. (Na íntegra!)




Curadoria por Marcio Harum




Curadoria experienciada por quem lida com o que é íntimo:




- assumir o lugar de sua própria subjetividade;


- variações constantes de corpo e consciência pela prática dialógica/expositiva;


- dar voz a essa experiência é talvez poder desestabilizar-se pela revisão crítica/teórica como autor, como orador;


- o gosto convertido em necessidade político-identitária;


- o gosto como emergência existencial (bonito isso!);


- o gosto como criador de vínculos comuns e provocador de divergências sem causa objetiva (ou apostar no combustível do consumo de cultura).




*Giro curatorial: da prática para o discurso.




* A partilha do sensível - Jacques Rancière (aquisição futura)




Curadores:




- o elemento significativo da mudança do papel principal do curador é a sua evolução criativa e ativa diante da produção artística;


- atende tanto as necessidades do artista como as demandas do público e atua como mediador perante a instituição público/privada;


- articula seu posicionamento com base no discurso artístico onde a prática curatorial necessita o "falar" e o "escrever" para que sua função seja reconhecida dentro do sistema de arte;


- fazer e dizer são formas de agir e pensar o mundo.




No segundo dia tivemos uma conversa muito interessante com a escritora e curadora Daniela Castro. Apontamentos feitos por ela me esclareceram alguns pensamentos até então confusos com relação à curadoria.




Curadoria por Daniela Castro




- a curadoria tem uma hipótese;


- não há linha curatorial. Há uma rede no sentido de vetores;


- não tem nada de subjetivo. É pessoal;


- silêncio: outra espécie de tradução;


- característica de texto de escritor e não curador;


- "Que Deus te guie porque eu não posso guiar". (Haroldo de Campos);


- o texto curatorial tem que disparar situações, pensamentos e não explicar nada;




- a dinâmica do conhecimento para a prática e com a prática;


- sair do ambiente comum;




+ Haroldo de Campos na minha vida!




Esse encontro aconteceu no Paço das Artes. Ao mesmo tempo estava ocorrendo a exposição "Assim é se lhe parece" com curadoria de Priscila Arantes e Cláudio Cretti e trabalhos de Alberto Simon, Ann Lislegaard, Bruno Dunley, Gisela Motta e Leandro Lima, Laura Belém, Laura Vinci, Leandro Erlich, Milton Marques, Paulo Nenflidio, Sara Ramo e Wagner Malta Tavares.




Gostei muito da exposição. Gosto de exposições que não são prepotentes; apresentam os trabalhos do artistas, propõe questionamento e reflexões e só. Nada de espetáculo.




Depois de visitá-la, na escada do paço esperando o workshop...




A mudança de estado das coisas e pessoas.




Em que momento nos encontramos sólidos, líquidos, gasosos?




A recusa do estado normal das coisas.




O que parece é, pois passa a existir em outro estado.




O tempo da mudança de estado.




O que há de misterioso na mudança.




Mudar de estado é ficção?




... pensamentos que vieram com o frio daquele dia.




"Cosí è, se vi pare." Pirandelo






Cuidem-se!














quinta-feira, 28 de abril de 2011

“Filme de Amor” – E tudo que há de artista em Júlio Bressane




Tido como o principal representante do cinema marginal brasileiro e, se não, o único a se arriscar no cinema experimental no Brasil, Júlio Bressane evidencia essas características em seu 25º filme, “Filme de Amor”, realizado em 2004.

Filmado num curto tempo de dez dias e depois de quatro meses de ensaio, Bressane traz a fábula das Três Graças da mitologia sob uma visão particular, contemporânea e surreal. O erotismo e a linguagem poética aparecem como elo principal para o cineasta decorrer sobre as três figuras, o Prazer, o Amor e a Beleza.

É importante ressaltar aqui a origem da idéia para o filme. A partir da análise do crítico e historiador de arte, Aby Warburg, o diretor teve contato com a história da criação da Trindade (Três Graças) na chegada de Vênus à Terra.

Para a criação das cenas Bressane se baseou nas obras do artista Balthus, principalmente pelo erotismo e caráter sensual das figuras e cenas criadas pelo pintor. Na imagem criada pelo cineasta é visível as referências da bidimensionalidade da pintura e a tridimensionalidade da escultura, principalmente a escultura grega.

No filme as três figuras são representadas por duas mulheres (Hilda e Matilda) e um homem (Gaspar), numa espécie de fábula popular suburbana. Os personagens são pessoas comuns, de vidas desinteressantes e medíocres que vivem no subúrbio carioca.

Em um final de semana os três se encontram num apartamento, para uma espécie de celebração, de ritual em que se permitem transfigurar nas três divindades. Através da embriaguez, do erotismo, prazer sexual, do espiritismo e da poesia, a vida dos personagens sai do ambiente comum para entrar em contato com elementos sutis, como se um intervalo fosse estabelecido para que pudessem sair de si e habitar outras esferas do pensamento e comportamento humano.
O sexo é o elo entre os personagens que se deixam envolver pelas manifestações corporais e sensoriais proporcionadas pelos diálogos e ações. Ao mesmo tempo que é tratado de forma animalesca, como nos bacanais gregos, é também mostrado de forma lírica, poética, natural e sem esteriótipos.

A sinestesia presente em todo o filme é sentida pelo espectador que testemunha e participa dessa “orgia filosófica”. Como consequência o gozo é a síntese do tema. O gozo aparente no rosto, no esperma, nos símbolos e nas metáforas. O filme inteiro é repleto de simbologias com significados próprios do diretor.

Segundo Bressane, a paixão pelo cinema, o entusiasmo e o encontro são responsáveis pela parceria entre ele e o fotógrafo Walter Carvalho, que neste filme consegue abarcar toda sua genialidade e sensibilidade ao realizar uma fotografia rica de técnica e significado para compor um dos fatores mais atrativos do filme. A oscilação da imagem colorida e em preto e branco, muito bem trabalhadas no filme, coloca o espectador para visualizar uma história real e uma história contada que se encontram numa mesma situação.



Os três amigos que buscam o prazer fora do cotidiano contam com diálogos encharcados de poesia e textos de caráter literário-filosófico-artístico, além de declamarem falas de outros filmes do diretor, uma das características que dão ênfase para as impressões pessoais do mesmo.

Por mais atraente, encantador e inovador que seja o resultado de uma criação de
Bressane, o seu processo e seus modos de operar o cinema é que chamam mais atenção.
No caso de “Filme de Amor” são inúmeras as qualidades originais ao cinema brasileiro. Em Bressane o cinema se apresenta de uma forma viva, orgânica, em que o cineasta abstrai elementos em função de uma imaterialidade do tema. Como diz Walter Carvalho, o diretor tem a capacidade de enxergar os espaços vazios, a imagem enxuta de elementos físicos, porém valiosa de significados.

O início do filme é a própria produção do filme. Conforme os personagens são apresentados, a imagem em preto e branco, as cenas cortadas bruscamente, os enquadramentos fechados e os longos planos-sequências nos remetem aos primórdios do cinema, em que o diretor nos dá a primeira dica de que se trata de uma sensível reflexão sobre o cinema.

Além da parte criativa do diretor, a direção de atores feita pelo próprio busca também uma inovação. A atuação pretende-se não espontânea, não natural, geralmente de um jeito não encontrado no cinema tradicional. Para o cineasta há a intenção do texto representado sob os parâmetros do teatro clássico.

Outro fator marcante neste filme de Bressane é o modo como se inverte o olhar na criação. A câmera se vira de frente para a própria linguagem cinematográfica, como se o filme fosse sobre a imagem do cinema. Dentro desse aspecto o diretor ainda cria um jogo de paradoxos entre o cinema e o tema, entre o tema e seus desdobramentos e entre o cinema e seus questionamentos. Tudo isso acontece através da desconstrução da linguagem, realizada com originalidade e maestria por Bressane.

A trilha sonora de Guilherme Vaz, a montagem de Virginia Flores e a produção de Tarcísio Vidigal completam uma equipe de primeira linha e que respondem e contribuem maravilhosamente para o estilo irreverente e atrevido de Bressane em “Filme de Amor”, uma obra que não é auto-biográfica mas expõe seu criador com todas as suas concepções, divagações e indagações sobre o que é a arte e o cinema para ele.


Cuidem-se.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Só Leonilson Só.


"Leo não consegue mudar o mundo"

Olá!

De volta e sem rodeios!

Depois de muitas recomendações e por bom senso (lógico!), não poderia deixar de visitar a exposição SOB O PESO DOS MEUS AMORES, com cerca de 300 obras de LEONILSON e com curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende.
Ainda bem que o cansaço de toda a semana não me tomou e firme e forte fui para o Itaú Cultural. Até hoje não havia visto uma exposição sobre o artista e nem estudado seu trabalho a fundo. Conhecia pouca coisa sobre o Leonilson. Mas fiz uma ótima amizade com ele e com seus trabalhos nessa tarde de sexta-feira! E quem for à exposição vai saber do que estou falando.
A começar pelo título da exposição, já podemos ter noção de uma certa intimidade e cumplicidade com o que está por vir, como se o próprio Leonilson nos convidasse para entrar e dividisse conosco memórias, pensamentos, devaneios, espasmos e confissões.
Me permiti entrar de cabeça na "caixa das coisas do Zé" (seu nome era José Leonilson, e por momentos ele mesmo se chama de Zé). Essa caixa, literalmente criada e montada pela curadoria, nos coloca em contato com o trabalho do artista como se também fizéssemos parte de tudo aquilo. Ou que, no mínimo, pudéssemos revirar essa caixa e achar segredos, pessoalidades e muita poesia.
A curadoria acertou na medida ao trazer uma montagem simples e tão correspondente ao trabalho do artista, sem brigar com as obras ou dificultar percursos. Pelo contrário. Nos coloca imersos no mundo do artista e de suas intenções, dialogando com as surpresas do mundo infantil, presentes na produção de Leonilson.
A inocência infantil se mostra no desenho, nas coleções e objetos, porém nos instiga a uma reflexão nada inocente, principalmente se vier acompanhado de palavras e textos.
Ah, as palavras de Leonilson. Como se encaixam umas nas outras. Como se encaixam com as imagens. Como se encaixam na sua vida. E na nossa.
As palavras (e números) aparecem de duas formas: como mensagem e como elemento gráfico. Assim como o desenho, que muitas vezes se prioriza em ser mensagem e outras somente grafismo.
É notável o apuro e riqueza do traço, mas o artista escolhe quando, como e porque se utilizar disso ou não. A técnica realista passa longe de ser um foco para Leonilson.
Até mesmo seus cadernos de anotações (expostos de forma ultramoderna, digitalizados e podendo ser folheados por gestos e sensores) são pensados graficamente, como obras, como trabalhos individuais. Como exemplo disso: as cores empregadas, o branco e o vazio do papel, presentes na maioria dos trabalhos. Não poderia ser diferente em seus cadernos.
Além disso, o artista consegue transitar entre as linguagens de uma forma intuitiva e tão complementar entre elas que é fácil pensar toda sua produção como uma só obra.
São tantas as reflexões e observações a respeito desse artista, suas obras e sua vida que não seria possível expor tudo aqui.
Mas gostaria sim de deixar como conclusão desse texto uma das coisas mais bonitas que percebi e aprendi com esse artista. Leonilson nos mostra a verdadeira vontade do artista para com o mundo: antes de querer se expressar, ele quer FAZER. Quer se colocar (pequeno) perante o (imenso) mundo.
Como é visível sua necessidade em produzir, em fazer, EM ESTAR FAZENDO, como se o trabalho fosse resultado de uma ação para com O OUTRO e para SI MESMO. Para Leonilson o FAZER, o REAGIR frente as coisas da vida é um gritar para o mundo. Essa ação é a arte desse artista tão profundo quanto poético. Tão lúdico quanto real. Um artista que se permite FAZER antes de SER.
Disso tudo não poderiam sair obras tão intensas e tão delicadas e sensíveis como as que deliciosamente conheci hoje.
Sem mais.
Cuidem-se!